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27 julho 2006

BOM DIA: CENTENÁRIO:Um século de Mario Quintana

Atualmente, a maior parte das obras de Mario Quintana são publicadas pela Editora Globo, em coleção coordenada por Tania Franco Carvalhal, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, - que, em prefácio ao livro A rua dos cataventos, escreve: ´Assim, ao inaugurar com esses poemas uma obra hoje de grande repercussão entre os leitores e apreciada por sensíveis críticos de poesia e por grandes poetas como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Cecília Meireles, Mario Quintana imprime uma feição pessoal a essa forma poética e lhe dá vida nova no panorama da lírica brasileira´.Em comemoração ao centenário de nascimento do poeta, a editora prossegue com a publicação de seus livros, lançando este mês, o livro Caderno H, talvez sua obra mais conhecida do grande público, confirmando-o como o principal autor de epigramas entre os poetas do Brasil no século XX.
Saiba um pouco mais sobre Caderno H e os demais livros republicados ultimamente.

Caderno H:
No Caderno H o leitor poderá encontrar virtualmente tudo: infância, lembranças, cenas cotidianas, o mundo dos objetos que nos cercam, meditações sobre o tempo e a poesia, Deus, desejo, morte. Como um grande almanaque anual, nele se apresentam desde temas grandiosos ou graves até situações as mais comezinhas ou observações que privilegiam os aspectos marginais das coisas e da realidade. E como corretamente salientou Paulo Rónai, a falta de ordenação dos fragmentos torna o conjunto ainda mais atrativo. Possivelmente porque suplementem a ironia subjacente a todo o projeto, desvinculando-o com clareza de uma organização normativa, hierárquica e sentenciosa. Pela própria natureza dos epigramas, o livro é uma coleção inumerável de ditos mordazes, picantes, zombeteiros, mas tudo isso de forma leve, delicada e urbana, num cenário em que a ironia inclui, necessariamente, o próprio poeta, perplexo diante do nonsense do mundo, irmanado ao leitor. Mas o que sobretudo surpreende é a capacidade de observações acuradas a partir de uma imagem pescada do cotidiano e que sempre esteve ali sem que a víssemos, que tocam questões de grande profundidade, quer filosófica ou estética, porque dizem respeito ao problema da representação.
A Rua dos Cataventos:
A estréia de Mario Quintana na poesia data de 1940, com a publicação de A rua dos cataventos. O livro obtém ótima repercussão e seus poemas logo passam a figurar em manuais escolares e antologias. Trata-se de um livro de sonetos, onde a cadência prosaica, cheia de informalidade e de índices afetivos, programaticamente ressaltados pelo poeta, são moldados pela métrica, pelo ritmo e pelas rimas, produzindo um contraste inusitado entre forma e fundo, entre a matéria (movente) e o tratamento artístico (fixo) que Quintana lhe dedica.
Sapato Florido:
O desenvolvimento natural da poética de Quintana, que privilegia tanto a informalidade e um tipo de prosa talhada em verso, aparece em seu livro seguinte: Sapato florido. Publicado em 1948, esse livro teve dificuldades de ser enquadrado em termos formais. Misto de tom poético e desenvolvimento em prosa, espécie de poesia posta em prosa, essa obra parece ter atendido a algumas necessidades internas da linguagem de Quintana. Se o poeta sempre foi afeito à descrição de estados afetivos cotidianos, ao ritmo lento das frases, à criação de personagens do dia-a-dia, ao humor e aos aforismos, Sapato florido pode ser visto como um ponto de viragem em sua obra, espécie de síntese dos livros precedentes. O que Quintana desenvolve em Sapato florido é o famoso gênero do poema em prosa.
Canções:
Seu segundo livro de poemas, Canções, é lançado em 1946, com ilustrações de Noêmia. O salto decisivo que Quintana empreende nesse livro, em termos formais, consiste na utilização do verso livre e na ampla gama de poemas escritos em verso branco, ou seja, com métrica mas sem rima. Boa parte desse influxo advém da poesia modernista, com a qual Quintana, em certo sentido, afina sua escrita. Outra mudança que se observa nesse livro é de ordem temática: a inspiração popular. Como assinala Gilda Neves Bittencourt no prefácio de Canções, diferentemente de A rua dos cataventos, o poeta deixa-se levar ´mais ao sabor do próprio poema, permitindo que ele o conduza pelos caminhos da sonoridade e da dança, explorando inclusive o espaço gráfico e desligando-se do conteúdo significativo em favor do elemento sonoro dos versos´.
O Aprendiz de Feiticeiro:
O aprendiz de feiticeiro, de 1950, marca ´a maturidade plena do poeta´, define Tania Franco Carvalhal. ´Em O aprendiz de feiticeiro, a lição da poesia ultrapassa o projeto do simples desvelar e esclarecer o mistério do mundo e dos homens. Guarda sempre intacto um ângulo indecifrável que oculta e com o qual recomeça a lúdica aprendizagem simbólica da face escondida com que, feiticeiro, o poeta nos atrai e onde nos deixamos prazeirosamente enclausurar´, escreve Maria Luiza Berwanger da Silva, autora do prefácio desta reedição.
Espelho Mágico:
Espelho Mágico, de 1951, sublinha de modo ainda mais intenso a decifração e a transcendência da leitura poética proposta por Quintana desde a obra anterior. Espelho mágico é formado por 111 quadras de grande variação métrica, escritas em 1945, conforme indica o autor. Cada uma delas, distintamente numerada, tem seu próprio título que, além de anunciar, muitas vezes também trata de explicar o significado dos poemas. O tom de humor - marcante na personalidade do poeta - faz-se claro nessa obra, em versos de fina ironia que também dão espaço à preocupação acerca do fazer poético. ´Na aparente ingenuidade da forma, oculta-se uma tessitura de sentidos, omissões, referências, agudezas verbais e rítmicas que revelam a grandeza do poeta´, afirma Lúcia Sá Rebello, que assina o prefácio da nova edição.Publicada em Porto Alegre em 1951, a edição original da coleção de quartetos Espelho Mágico trazia na orelha apresentação e comentários de Monteiro Lobato, que teria lido 12 quartetos de Quintana na revista Ibirapuitan e escrito a ele encomendando um livro em 1939.
Apontamentos de História Sobrenatural:
A primeira edição do livro é de 1976 e constituiu-se um marco na bibliografia de Quintana, pois foi com esse livro que Quintana retomou os aspectos mais fundamentais de sua poética. Apontamentos de história sobrenatural é uma obra bem extensa, trazendo 146 poemas, além de nota introdutória do autor, na qual ele esclarece alguns aspectos da organização do livro, como a disposição cronológica dos poemas, procedimento que ele nunca havia adotado até então. Os poemas são geralmente curtos e em versos livres, mas há também sonetos e odes, bem como poemas em prosa.Pela diversidade de temas e formas, o livro sintetiza diversas das estratégias anteriormente presentes em seus poemas, retoma temas como o onírico e o fantasmático, e formas como o soneto, tão presente em sua obra anterior, além de inaugurar campos novos de observação, como a recuperação da infância, ou através do esquadrinhamento do imenso cotidiano que Quintana tanto quis poetisar, mesmo em suas mais ínfimas insignificâncias. Ao mesmo tempo, o aprofundamento de sua reflexão sobre o tempo e a morte, dois temas recorrentes em seus livros, em contraste com as pequenas experiências pessoais ocorridas no dia-a-dia, permite que o poeta salte além, buscando inventar um modo para o homem comum pensar a existência e ligar todas as coisas, das mais materiais às mais fugidias.
Esconderijos do TempoLivro de maturidade:
Esconderijos do tempo aprofunda as iluminações de Quintana sobre a memória, a velhice, a morte e a própria poesia. O ano de 1980 foi marcante na biografia de Mario Quintana: o poeta publicou Esconderijos do tempo e recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra literária. O livro reúne os textos que escreveu com mais de 70 anos. É, portanto, uma obra de maturidade, mas, ao mesmo tempo, uma clara demonstração da juventude, do frescor que Quintana conseguiu preservar em seus livros ao longo de toda a sua trajetória.É constituído de 50 poemas geralmente breves e de versos livres ou em prosa, havendo apenas um soneto. Quintana praticamente se utiliza de todos os metros, das redondilhas menores e maiores aos versos longuíssimos. Explora, inclusive, e com excelente efeito, seqüências de versos de uma única sílaba. Há canções e danças, aparentando o poema à música, além da forte coloquialidade em muitos poemas, chegando-se mesmo à utilização de formas tipicamente orais da fala. Diferindo um pouco de seus livros anteriores, não são muitas as pequenas cenas do cotidiano e da natureza que tanto o singularizam.
Baú de Espantos:
Com Baú de espantos, Mario Quintana revisita sua infância e a própria poesia, buscando a valorização da experiência do cotidiano. O livro foi publicado pela Editora Globo em 1986, quando o poeta completou 80 anos. Agora a quarta reedição vem precedida do estudo ´´O instante, matéria-prima da poesia´´, de Antonio Hohlfeldt, que conviveu com Quintana e escreveu outros textos importantes sobre o poeta.Baú de espantos foi uma das última obras de Quintana e reuniu 99 poemas até aquela data inéditos, havendo inclusive escritos de sua juventude, como o poema ´´Maria´´, de 1923, quando ele tinha 27 anos, o que confere ao livro uma estrutura de rigorosa montagem e um caráter especial.Quase todos os poemas são breves e em versos livres, mas há sonetos (alguns com métrica e rima) e mesmo poemas em quadras com versos heptassílabos e rimados.
A Cor do Invisível:
Em A cor do invisível o poeta reafirma e interroga a simplicidade como via de acesso a uma forma mais intensa de viver e escrever, é um dos títulos mais felizes do autor, sintetizando sua concepção de poesia e ideal de visibilidade.O livro recolhe 72 poemas, geralmente breves e em versos livres. Há também diversos haikais, algumas trovas, novas versões de poemas anteriores, e mesmo um soneto incomum, todo constituído com versos de uma só sílaba. Na mesma linha de concisão, que sempre caracterizou Quintana, alguns poemas ´´minimalistas´´ são de um único verso, a modo de sentença ou máxima, em busca de uma pequena filosofia para o cotidiano. Curiosamente, o poeta incluiu quatro poemas com as datas em que foram escritos, todos muito antigos e que permaneciam inéditos, sendo o mais antigo um soneto de 1923, quando ele contava com apenas 16 anos. Os outros são um soneto de 1924, um poema de 1934 e outro soneto de 1935. São textos valiosos para avaliarmos sua obra numa duração ainda mais extensa. E talvez um dos traços fortes do livro sejam os poemas sobre a própria poesia, ou mesmo sobre o poeta.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Obrigado pela dica de Site...
Ps: vc digitou tudo isso sozinha?rsrs

8:27 PM  

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